Grémio das Nove "Livros a Haver. O caso do espaço geoestratégico dos Açores", por Armando Mendes

Sobre

O espaço geoestratégico dos Açores é um dos ativos ou mesmo o ativo essencial da Região Autónoma, tanto do ponto de vista militar, como do ponto de vista civil.

Qualquer potência com aspirações globais ou que simplesmente esteja focada apenas no Atlântico a Norte, verá as suas aspirações degradadas se não controlar os mares e os céus açorianos.

Esta necessidade transforma os Açores num ativo valioso - abrindo perspetivas negociais que podem beneficiar tanto o Estado como a Região.

Os Açores são também um ativo civil da maior importância. Por exemplo,  linhas comerciais, aéreas e marítimas, de enorme peso na mobilidade e no comércio mundiais cruzam o espaço açoriano, abrindo perspetivas para negócios que continuam por explorar a favor das ilhas.

A Rota da Seda (China) em construção irá, mais tarde ou mais cedo, cruzar-se com os Açores. Não é fácil perceber qual o grau de envolvimento que as ilhas irão ter com esta nova realidade. O interesse vital no controlo do espaço açoriano poderá determinar outras opções, ficando este espaço reservado para os interesses norte-americanos e da NATO.

A exploração dos mares e em especial dos fundos marinhos, pertence à economia do futuro, que ganha particular relevância nos Açores com o crescimento em perspetiva da plataforma continental, que já se sabe ser de uma riqueza enorme em minerais (incluindo ouro) e produtos de interesse para a indústria da saúde - por exemplo. Trata-se de uma nova realidade geoestratégica com que os Açores terão que lidar.

Um potencial tão significativo só pode ser gerido a favor dos Açores se a Região conseguir criar um pensamento próprio, bem fundamentado e sistemático, que até hoje não existe. Nunca seremos capazes de negociar aquilo que nem conhecemos.

"Livros a Haver" significa que não existem nos Açores publicações suficientes que possam constituir um corpo coerente e capaz de projetar conhecimento profundo sobre a realidade geoestratégica das ilhas. Esta lacuna resulta da inexistência de uma aposta local em linhas de investigação que visem conhecer, operacionalizar esse conhecimento e sustentar um pensamento próprio e com capacidade prospetiva.

Não somos capazes de perceber o que valemos em termos absolutos e relativos. Resolver esta lacuna é um desafio estratégico para o futuro dos Açores.

Armando Mendes Jornalista; Doutor em História, Defesa e Relações Internacional; Mestre em Geopolítica e Geoestratégia; pós-graduado em Direito Regional; licenciado em História Científica.

Natural da freguesia de Doze Ribeiras, ilha Terceira, onde nasceu a 20 de março de 1962. Reside no lugar do Pesqueiro, São Bartolomeu, também da ilha Terceira. Casado e pai de um filho.

É jornalista profissional desde 1979, com funções nos meios Rádio e Imprensa e com participações em Televisão. Foi premiado no exercício das funções de jornalista com trabalhos sobre a Autonomia Regional.

As suas duas obras fundamentais nas áreas da História, da Defesa e das Relações Internacionais (que mais importam para o encontro em causa) são:

- Mendes, A. (2006). Os Açores e a Projeção de Força nos Cenários Pós-Guerra Fria. Ponta Delgada: Universidade dos Açores.

- Mendes, A. (2019). Entre o Carro de Bois e o Avião. Uma pequena comunidade no centro de uma rivalidade global. Angra do Heroísmo: Instituto Histórico da Ilha Terceira.

Foi professor convidado na Universidade dos Açores em matérias relacionadas com Geopolítica, Geoestratégia e Ciência Política.

Investiga, atualmente, questões relativas às referidas áreas académicas de maior interesse, procurando desbravar arquivos relacionados, sobretudo, com os apoios norte-americanos ao desenvolvimento dos Açores e a importância da Base Militar de Santa Maria (1944-46) como ícone precoce da Guerra Fria.